Tarde da noite, lua intacta e redonda no centro de alguma
constelação. Sua luz iluminando a casa inteira, todas as árvores balançando e
emitindo um som um tanto grotesco que trazia aquele frio na barriga provindo de
um medinho gostoso de sentir, e lá estava ela mais uma vez.
Gostava da brisa tocando seu rosto levemente e para ser
perfeito, bastava aquele cheiro de chuva ou terra molhada, contanto que
houvesse aquele cheiro, aquele único e inconfundível cheiro. Observava a lua,
as estrelas, as gotas caindo, as árvores dançando com o vento, o momento em si
e pensava no livro que poderia escrever sobre aquele instante tão simples e tão
fascinante. Pensava que nas copas das inúmeras árvores, entre os musgos e os
caracóis, havia alguma portinha milimétrica que escondia um reino imenso de
criaturas sábias e inexploradas que alguns acreditam existir, outros dão
risadas irônicas ao discutir.
Indefesa, sua única fuga era a imaginação. Imaginava
milhares de situações diferentes das quais não teria coragem de realizar então
deixava que seus pensamentos se encarregassem de tornar real ao menos em sonho
cada vontade embutida em sua cabecinha.
Cantava, sorria e dançava, vivia repleta de luz e música,
não saberia viver sem alguma bela melodia. As letras tão sonoras e as canções
tão bem elaboradas a embalavam num ritmo único e belo de fazer inveja, tratava-se de uma conexão extrema e diferente. A música era seu oxigênio mais
puro e cada verso era uma respiração profunda.
Era solitária, mas sua solidão a dava tamanha inspiração que
poderia transformar uma gota de orvalho de uma folhinha furada num grande lago
de vitórias régias, e como num passe de mágica, reproduzia e assimilava essa
imagem de orvalho num quadro de Monet.
Todos a julgavam uma alienada, mas mal sabiam o quanto essa
guria sabia apreciar cada precioso momento de sua vida inventada.
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