quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A verdade é que a culpa é toda da praga do processo indígena.

Existe um processo em minha mesa desde que cheguei no presente local. Na verdade, o processo existe à muito tempo, só foi mudando de mesa no decorrer dos anos. Tenho certeza absoluta de que esse bendito processo chegou aqui por volta de 1500 com os portugas, na mesa de Pedro Álvares Cabral, mais conhecido como Pedrinho do Processo. Algum branquelo metido a besta deve ter adentrado as terras de Vera Cruz e quisto cortar um pau-brasil e então, um índio muito sabido e visionário, pensou em abrir um processo na época. Pelo visto ninguém deu muita bola pro processo, ou pro índio, já que hoje quase não existe mais pau-brasil. Tentativa falha e frustrante que me deixou com um quase-papiro em minha mesa, ali no canto, não podendo ser resolvido por inexistência do índio, ou da árvore. Jogado à margem da solidão, sem um outro processo qualquer pra lhe fazer companhia, um documento verdadeiramente encalhado, banido pela sociedade processual. Triste pensar que existe coisa dessas, um processo sem qualquer amor, coisa muito incomum na vida de algumas pessoas, como por exemplo na minha vida bem resolvida e ótima, que vive cheia de amores e nada de documento encalhado, sempre cheia de alegrias e vários outros "processos" disponíveis, uma beleza, pena que não é verdade. A verdade é que o processo tem a mim e eu tenho ao processo. Nos completamos, somos nós e mais ninguém (por pura falta de opção de ambos), uma relação linda de cumplicidade e carinho, onde eu não abdico do documento e ele... 

...Bom, ele nada. Ele não poderia fazer nada por mim, já que não passa de papel. Pelo jeito quem tá ótimo na história é o documento, que fica aqui na mesa, guardadinho, quietinho, sem aborrecimentos, sem ninguém pra lhe encher seu saco de papel e por se tratar de um documento, não deve muito ligar pra solidão que o circunda. A verdade é que o processo tá muito melhor que eu. Devo ser alguma descendente de Cabral e os índios da época, com raiva da supressão do pau-brasil, lhe rogaram essa praga da "encalhadez"que sucedeu  nos descendentes e chegou até mim. Mas como eu sou uma badass, desafiarei a praga indígena e ancestral e contratarei um desses namorados de aluguel. 

Interessados barateiros, favor entrar em contato no tel: 0800-55-5050. De preferência, venham entregar seus currículos, proclamando a alegria após discar o número ou simplesmente dizê-los em voz alta e com uma pizza portuguesa nas mãos. Gradecida.  



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