domingo, 4 de novembro de 2012

Trégua do universo

No meio de tanta merda, eis que há um dia de trégua! Quando a vida tá difícil o bastante pra você querer desperdiçá-la  na cama, dormindo, sozinha, no escuro por um mês inteiro, porque esse seria o único jeito de nada de ruim te acontecer (exceto pelos fantasmas mau amados que poderiam te infernizar), um dia o universo finalmente fica com dó e resolve abrir uma exceção. Um dia de luz no fundo do poço, com seus poréns, claro...  porque nada é fácil demais!
Depois de uma madrugada turbulenta, com muita dor de cabeça, vômito, choro e preocupação de mãe com  os cachorrinhos que ainda me restam, acordei antes das 8hs pra não perder a hora da tatuagem que finalmente consegui marcar. Não consegui comer direito, me arrumei depressa com toda a dor de corpo que houvesse nessa vida e fui em cima da hora correndo pro ponto. Descobri que esqueci meu pen drive com a árvore que eu iria tatuar, voltei correndo. Desci com dor no corpo inteiro, suando e mais do que encima da hora pra pegar o bus, que por sinal estava mega, ultra, master, blaster cheio de pessoas idosas que preferiram deixar as janelocas fechadas, mesmo com as 50 pessoas de pé no corredor. (Um beijo pra eficiente litorânea que magicamente criou ônibus que comportam até 300 pessoas). Esse foi o início do meu dia de luz no fundo do poço, por incrível que pareça. Fui rindo à toa porque antes de sair de casa, me deparei com o Bento e Betina que estavam sumidos de madrugada (motivo das minhas lágrimas), e com essa onda de assassinato de animais que já me tomou a Miuxinha, ando muito sentimental com relação à bicharada. (Se eu pego o doente mental, filho de uma monstra, asqueroso, puto, bastardo, flegelado de ânus enorme, calhorda, mal amado, recalcado, avulso que fez isso à pobrezinha da Miúxa, eu viro Dexter.) Cheguei cheia de coragem pra passar mais dor ainda e tinham algumas moças na minha frente. O stúdio tinha paredes de vidro, então eu seria atração por algumas horas com minha cara de dor para as pessoas que subissem, descessem a escada rolante ou que estivessem de passagem por ali mesmo, ou seja, pra geral! Incrível como me senti estrela, teve um momento em que umas 15 pessoas estavam acumuladas na parte de fora do stúdio, avaliando minha performance de pessoa forte que não faz careta. Sou dessas! Entre essas pessoas, por coincidências da vida, vi três parentas que não via faz tempo, de passagem pelo local, escolhendo um piercing pra mais novinha, tentei esconder meu rosto de dor, mas não foi possível... Eu era mesmo aquelas galinhas nos fornos de restaurantes. Fiz minha árvore que foi escolhida a dedo, e que foi rejeitada por dois tatuadores devido à imensa dificuldade de ser feita, e ainda houveram algumas rejeições  depois de feita, por parte de alguns amigos bobinhos. As pessoas não entendem que o fato da minha árvore ser colorida e meio sem forma, é porque eu sou uma pessoa com olhos artísticos que adora coisas impressionistas, então façam o favor de rejeitar minha árvore pra lá, seus sem visão para a arte!
 Enquanto eu fazia minha tattoo e parecia que minha perna pegava fogo, fiz amizade com um dos tatuadores do local que por incrivel que pareça, adora Parisbuna. O cara é igualzinho ao Jack Sparrow, tanto que ele faz trabalhos vestido de Sparrow e é sangue bom pra caramba. Incentivei o rapaz a montar um stúdio aqui na cidade pequena, e parece que ele vai mesmo, nada que um marketing dozamigo não resolva! (Stúdio Punk Tattoo - Shopping do Centro de SJC. Tattoos bem feitas, não muito caras e ainda com tratamento vip... Recomendo, me senti num SPA!) Antes de sair ainda fui convidada pelo tal Tarcísio Gente Boa Sparrow a participar do motoclube que ele montou, agora imagina se eu com toda essa minha tendência a motoqueirisse, não amei? Saí de lá com vários brindes, um convite e um contato novo, o que foi extremamente assustador pra quem estava assustada com as caras de mau dos rapazes. Após esse episódio bacana, resolvi migrar pro antro dos trabalhadores que vivem no vermelho e fui ao calçadão. Tô sem grana faz tempo, como já foi mencionado por essas bandas, andei devendo minha vida e isso quer dizer que o pagamento que caiu agora dia 30 já foi quase inteiro e pra uma pessoa consumista que ainda tem que comprar algumas coisas, tive que optar pelo calçadão. Impressionante como os lojistas do calçadão perderam a noção de preço! Se eu fui até o calçadão, era porque eu queria coisa barata, mas o povo de lá anda com o rei na barriga e tão jurando que viraram Boulervard, a coisa tá tão boa pro povo de lá que querem a qualquer custo enfiar brindes na gente. Passei em frente á uma dessas lojinhas de bijou e a mocinha gritava na minha orelha que o papelzinho que ela queria me enfiar, era pra brinde, que era só entrar na loja, que não precisava comprar nada... MINHA FILHA, EU DETESTO BRINCO E NÃO QUERO SEU BRINDE DA PIEDADE, VAI ENFIAR SEU BRINDE..... 
Foi difícil ficar naquele lugar bem habitado, com uma tattoo recém nascida, calçadão infernal, cheeeeeeeeeeio de gente e com as lojas explodindo de vendedores treinados na chatice, quis sumir imediatamente de lá e prometi não voltar tão cedo. Isso porque eu só queria achar alguma roupa meio hippie pra uma festa que eu vou (Uma HEADband vagabunda e feia tava custando 15 reais, absurdo) Esse povo anda acabando com a imagem hipponga com esse consumismo todo, desde quando pedaçoes de pano que o povo paz e amor usava nos anos 60, tem que custar 80 reais? ABSURDO! Lugares cheio de gente me desesperam numa proporção tão horrenda, que involuntariamente, saio correndo e gritando em meio a um desses surtos psicóticos. Voltei pra minha casinha feliz da vida porque consegui fazer minha tattoo, ganhei vários brindes, fui convidada a participar de um motoclube, e o mais importante, iria chegar em casa e rever Bento e Betina... E sem medo, tive que considerar esse dia, mesmo que meio atormentado, como um dia de alívio na minha vida que anda sem eira, nem beira. Quem sabe esse não seria um sinal de trégua do universo? Qualquer dia volto com outros relatos, porque imaginação hoje em dia também anda numa lástima só. Fui. 



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