sábado, 17 de novembro de 2012

Os 5 dias

Faltam 5 dias para eu deixar pra trás a velha Paris, cidade das águas escuras. CINCO dias, que parecem um milênio, mas que ao mesmo tempo parecem cinco minutos. Até então eu estava estável, pensando no quão equilibrada eu sou, sensata, ponderada e corajosa, acontece que é mentira, meu corpo andou me enganando por esse tempo todo se fazendo de bad ass, mas agora que me dei conta que daqui c-i-n-c-o dias, neste mesmo horário, eu estarei definitivamente num outro lugar, me borrei toda (não literalmente, porque com o nervosismo, meu intestino resolveu travar pra sempre). Serão cinco dias sem ir ao banheiro, sem saber me organizar, forçando a mente pra não deixar nada pra trás, forçando os olhos para captar qualquer movimento brusco de minha mãe, como por exemplo o que fazer quando o gás acabar. Nunca achei que teria esse tipo de questionamento na minha vida tão cedo, na verdade, sempre soube que eu teria já que meu destino me empurrou pra uma direção contrária à dessas donas de casa, e agora assim, repentinamente, percebi que terei cinco míseros dias pra aprender a trocar chuveiros, fazer feijão, deixar meu apê em ordem, mantê-lo em ordem. Ontem fui à americanas comprar uma pringles, como de costume, e me deparei com um jogo de panelas super bonitinho, roxinho, da tramontina. Nunca pensei que minha atenção se ateria à um jogo de panelas, depois à um jogo de talheres e por fim ao preço de ambos me lembrando que não caberia comprá-los na minha atual situação de pindaíba. Tenho cinco dias pra aprender a administrar meu dinheiro. Fico pensando sobre o restante dos dias que me passaram, no que é que eu estava pensando, o que é que eu estava fazendo, porque é que eu não estava me organizando fisicamente e mentalmente pra encarar numa boa a chegada desses 5 dias tão horripilantes e me dei conta que antes eu não tinha me dado conta. Tenho essa mania chata e cheia de consequências de nunca me dar conta de nada. Me lembro que nesse último mês, me esforcei como um camelo pra dar conta de pelo menos uma coisa: meu trabalho. Nesses oito meses de trabalho, descobri que apesar de ainda ser muito irresponsável e adolescente, levo extremamente à sério meus compromissos. Sou dessas que perde noites de sono pensando sobre o laudo ambiental, parecer técnico, vistoria, notificação, burocracia, blablabla, mimimi, todas essas coisas que ocuparão minha cabeça no dia seguinte e que eu provavelmente darei conta porque pra mim, trabalho é compromisso e compromisso é coisa séria. Talvez tenha sido por isso que eu tenha me esquecido que um dia os cinco dias chegariam, estava ocupada demais trabalhando demais. Valeu a pena, aprendi a beça! O que me atormenta mesmo nesses cinco dias não é tanto pensar na solidão futura, porque eu adoro a solidão, adoro meu espaço, adoro ter meu ritmo,  é pensar em ter que crescer como gente, porque apesar de eu ja ter crescido um pouquinho como profissional, não vou negar, minha vida é boa. Minha mãe batalhou a vida inteira pra me dar uma vida boa e eu não vou abrir mão dessa vida e virar franciscana, não sou santa ou mané. Penso sobre as contas de água, luz, esgoto, entre outras que eu terei que pagar e o pior, que não poderei esquecer de jeito nenhum, o que é um grande problema já que minha memória é péssima; Penso sobre a comida que terei que preparar se não quiser morrer de fome e modéstia parte, eu cozinho horrivelmente mal; Penso sobre a roupa que terei que lavar entre um período da faculdade integral e outro, penso, penso, penso e surto com esses cinco dias que me restam. Cinco dias repletos de muita tensão, e eu realmente espero que pelo menos meu intestino funcione nesses cinco dias. Até qualquer dia, fui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário