Aquela vontade consumia, vontade de se atirar de uma vez
naqueles braços morenos de sol, vontade de se entregar, de se agarrar. Aquela
puta vontade de puta queimava por dentro, cada pensamento sujo e desejo ríspido
era um novo pacto com o diabo que ela quebrava ao abrir os olhos e sair do
transe, jurava infinitos falsos amores, jogava com o primeiro que ousasse um
eterno jogo de sedução que acabava em um segundo, tempo suficiente para que enjoasse
e quisesse outros, novos jogos. Passava séria pela passarela fitando vítimas,
olhava discretamente de canto de olho, soltava os cabelos, e os desvalorizava
sem dó, lançava seu veneno e se desvalorizava. Noites sedentas quase nunca
satisfeitas, queria mais, muito mais, queria algo que não encontrava nos
botecos das noitadas, nem em pescoços, costas e cabelos desarrumados, queria
menos vontades que consomem, queria prazer saciado, queria, queria, queria.
Queria não mais querer.
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